Jornalista Amorozzo Jorge

Nas últimas eleições municipais no Brasil, a partir da virada do milênio (ano 2000), verificou-se um aumento progressivo da insatisfação eleitoral, representada pelo elevado número de abstenções dos eleitores. 

Tomando como referência, o processo eleitoral do ano 2020, no cenário nacional, cerca de 29,5% dos eleitores optaram por não comparecer às urnas. Foi o maior número de eleitores desinteressados em votar nas últimas décadas. Em eleições anteriores, como 2016, por exemplo, o índice ficou em cerca de 21% de abstenções, e em 2012, quase 20%. No ano 2000, o percentual já registrava mais de 16%.

Neste percentual, não está incluso os eleitores que votaram em branco ou anularam seus votos, cujo índice também é preocupante. Estamos falando apenas dos cidadãos e cidadãs em dia com a justiça eleitoral, que não sentiram qualquer motivação para votar nos candidatos a prefeito e vereador do seu município.

No período conturbado para o País e o mundo (2020), em que os brasileiros viviam apreensivos com as consequências da pandemia, até seria compreensível o desinteresse do eleitor, mas esse comportamento vem de eleições anteriores, conforme dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral. O que pode significar descrença nos políticos do País e no sistema eleitoral vigente.

Uma das cidades que registrou maior número de pessoas desinteressados nas eleições municipais na última década, é Sorocaba, situada no interior de São Paulo.

Em 2012, dos 351,2 mil eleitores, 108,4 mil optaram por nem comparecer às urnas, ou votar em branco ou nulo; No segundo turno das eleições para prefeito e vereador do ano 2016, 145,6 mil eleitores de um total de 360,1 mil votantes, preferiram votar em branco, nulo ou nem votar. Já no segundo turno do pleito eleitoral de 2020, o número de cidadãos e cidadãs de Sorocaba desinteressados, que se abstiveram ou votaram nulo ou em branco, saltou para 194,5 mil, de um total de 347 mil eleitores. A imensa maioria de eleitores aptos a votar, cerca de 138,9 mil, nem compareceram às urnas. Enquanto 39,5 mil anularam o voto e 16 mil votaram em branco.

Analisando o perfil e a trajetória dos personagens do cenário político em Sorocaba, que disputaram ou disputam eleições municipais na última década, percebemos que, os eleitores do município são majoritariamente conservadores, ou seja, de direita. Depositam confiança no candidato que elegeram para administrar a cidade, ao ponto de ignorar qualquer que seja a crítica dirigida a ele, ainda que hajam evidências.

Mas quando essas evidências chegam às páginas policiais e à esfera judicial, o instinto natural dos conservadores que preza pelos bons costumes, predominante na maioria da população local, logo reage com desprezo, sem a menor cerimônia. É o que deve acontecer nas eleições deste ano 2024. 

Nas eleições de 2020, o prefeito Rodrigo Manga se elegeu com cerca de 153,2 mil votos, no entanto, a soma dos votos nulos (39.552), brancos (16.069) e abstenções (138.912), que representam o desinteresse do eleitor, ultrapassaram o número de votos dos eleitores que o elegeram: Foram mais de 194,5 mil votos. Ou seja,  a desconfiança do eleitorado conservador de Sorocaba, já superava expressivamente o número de eleitores que confiaram seu voto ao prefeito Rodrigo Manga.

Resultado bem diferente da eleição anterior, no ano 2016, quando o prefeito José Crespo conquistou a confiança de 182,8 mil dos 360,1 mil votantes.  Sendo que os votos  em branco (11.503), nulos (35.980)  e dos eleitores que não compareceram às urnas (98.236), representam mais de  145,7 mil votos desperdiçados  por conta do desinteresse do eleitor.

É muito vergonhoso para os políticos conservadores da cidade de Sorocaba - uma cidade expressiva no cenário político e econômico nacional -, especialmente para o prefeito Rodrigo manga, ver seus eleitores desistindo cada vez mais do seu direito sagrado ao voto, que é o sustentáculo da democracia, por subsequentes decepções eleitorais. 

Considerando o cenário político atual, onde o eleitorado de Sorocaba só conta com duas opções de candidaturas à prefeitura de Sorocaba: Paulinho do Transporte, apoiado por um grupo de partidos de esquerda, que historicamente fazem oposição ao prefeito Manga e todos os candidatos de direta; e outra composta pelos partidos de direita, que apresentam ao mesmo tempo, Danilo Balas, do Partido Liberal, e Rodrigo manga, do Partido Republicano, como candidatos supostamente distintos, mas que na verdade, até alguns meses antes das eleições  estiveram unidos  partilhando os mesmos ideais.

É bastante provável que o desinteresse do eleitorado conservador, atinjam índices muito acima dos registrados nas duas últimas eleições no município de Sorocaba.

Depois das experiências com o ex-prefeito José Crespo e sua vice Jaqueline Coutinho, que virou prefeita gestada nas entranhas de uma trama sórdida com vereadores de direita, inclusive o próprio Rodrigo Manga, que por sua vez  elegeu-se prefeito com o caldo da roupa suja lavada em público por Crespo e Jaqueline, e também com dinheiro sujo do crime organizado. O eleitor de Sorocaba parece não suportar mais a responsabilidade de confiar o voto a políticos desleais. 

Como diz o velho ditado:   Gato escaldado quer distância de água fria.