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A jornalista Natuza Nery abordou nesta quinta-feira (5), na Globo News, uma informação exclusiva sobre a existência da "bancada do crime", composta por mais de 72 parlamentares do Congresso Nacional, entre deputados federais e senadores financiados pelo crime organizado.

O debate entre os jornalistas da emissora com interação do telespectador, teve até a participação do presidente da Embratur e ex-deputado federal Marcelo Freixo, que enviou mensagem para o programa jornalístico, para contribuir com sua experiência, já que foi o responsável pela CPI da Milícia, no Rio de Janeiro. 

Além da "bancada do crime", que na verdade, não existe só no Congresso Nacional, mas também em Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais de todo País, os jornalistas da Globo News também abordaram a existência dos "narcogovernos municipais", caracterizado pela infiltração do crime organizado em inúmeras prefeituras e Câmaras de Vereadores no Brasil.

Ambas as modalidades criminosas trazem preocupações para a justiça eleitoral, porque comprometem a democracia do País, fomentam o tráfico de drogas e estimulam a criminalidade. Por esta razão, a Polícia Federal está mapeando políticos envolvidos com essas práticas em todo o País.

CASO EM SOROCABA, SÃO PAULO

Enquanto diversos crimes são investigados, prefeito tenta tapar o sol com a peneira.

Os investigadores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado-Gaeco, do Ministério Público do Rio Grande do Sul, denunciaram o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga e dois ex-secretários municipais , em junho deste ano (2024), por envolvimento com um grupo de "empresários"  que abasteceram financeiramente a campanha eleitoral de Manga em 2020, com dinheiro sujo. 

A investigação foi encaminhada ao Ministério Público de São Paulo, que denunciou o prefeito Rodrigo Manga e os dois ex-secretários do governo municipal mais próximos do chefe do executivo, Vinícius Rodrigues, da Saúde e Fausto Bossolo, da Administração e Governo.  Este último, também foi denunciado em outro processo de corrupção, na secretaria de Educação e foi condenado à prisão, mas "desfruta" do direito de recorrer em liberdade.

Os documentos das investigações dos promotores de justiça do Rio Grande do Sul, contém elementos robustos que comprovam o envolvimento do prefeito num esquema de financiamento da sua campanha eleitoral em 2020, com compromissos previamente acertados para a contração de uma Organização Social dos empresários mafiosos que bancaram sua campanha com dinheiro de origem ilícita.

Interceptações telefônicas e quebra de sigilo de mensagens, autorizadas pela justiça, revelam a trama sórdida orquestrada entre o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga e seus dois secretários municipais, com os financiadores da sua primeira campanha eleitoral para prefeito da cidade em 2020.

Em 13 de setembro de 2020, o antigo PRB, atual partido Republicanos, oficializou a candidatura de Rodrigo Manga, durante convenção realizada em um hotel de luxo em Sorocaba. Uma semana depois, integrantes da Organização Social Aceni, conversam via whatsapp sobre o interesse em financiar a campanha do Manga. 

Em uma transcrição de áudio enviado por um dos envolvidos no esquema criminoso de financiamento da campanha de Rodrigo Manga, para outro parceiro do negócio sujo, fica evidente que a candidatura do prefeito de Sorocaba em 2020, foi financiada pelo crime organizado, que logo no primeiro ano de mandato do Manga, assumiu a gestão de duas unidades de saúde do município, através de contratos fraudados entre a prefeitura e a Organização Social Aceni, que somaram mais de R$ 100 milhões:

"(...) Vamos decidir amanhã as cidades em que a gente vai, porque que eu estou te falando isso, o João marcou pra segunda-feira no PRB, com o cara de Sorocaba, o cara de Sorocaba vai ganhar, é aquele cara (o Rodrigo Manga) que já esteve com a gente, todo mundo já me falou desse cara aí, e o cara tá no PRB, o cara (Rodrigo Manga) vai ganhar a eleição. O João já marcou no partido, inclusive pra tentar fazer até uma situação melhor pra nós. Marcou pra segunda-feira. E ele tem doutras cidades pra nós", relatou um dos investigados.

Conforme consta nas páginas 86/87 do parecer dos promotores de justiça do Rio Grande do Sul, o prefeito Rodrigo Manga passou a cumprir o acordo criminoso firmado em negociatas durante sua campanha eleitoral: "Nesse sentido, degravou-se aleatoriamente áudio de Paulinho, em que ele comenta com o sócio Anderson Luiz Santana, que deveriam investir no candidato de Sorocaba, do PRB (atual Republicanos), que, segundo ele, iria ganhar as eleições a prefeito daquela cidade, o qual já havia sido 'parceiro' deles no passado. (...) No caso, estavam a falar do candidato conhecido como Rodrigo Manga que, de fato, venceu a eleição e, agora, em julho de 2021, provavelmente cumprindo, portanto, o acordo criminoso feito com os investigados, contratou emergencialmente por seis meses a entidade Aceni, do investigado Paulinho, para administrar e gerir a UPA do Éden, na cidade, ao custo de R$ 2,4 milhões por mês".

Ainda no primeiro ano do governo Rodrigo Manga, em Sorocaba, os secretários de Saúde, Vinícius rodrigues e de Administração e Governo, Fausto Bossolo, conduziram tratativas com os investigados para que a Aceni assumisse a gestão do Hospital de Campanha do município, por meio de contratação emergencial em substituição a empresa Instituto Diretrizes.

"(...) Registra-se que, dentre os vários áudios trocados entre Sylvio e Paulo (...) num deles, por exemplo, dodia01/06/2021, Sylvio relata a Paulo que acabara de sair de uma reunião em Sorocaba/SP, onde o secretário de Saúde o teria chamado e anunciado que a empresa Instituto Diretrizes, teria perdido a gestão do Hospital de Campanha do Município, e que o secretário desejava que a "Aceni" assumisse o serviço por meio de contratação emergencial, sendo frisado que o "secretário" já adiantara que estaria pensando em "uns 20 por mês". Sylvio também destaca que a entrega das propostas se encerraria no dia seguinte, às 23 horas e que o "Fausto" iria ligar para ele até as 22h para passar o valor para eles ganharem".

Após a reunião e os contatos telefônicos para alinhar os interesses de cada um dos envolvidos, a Aceni venceu e assumiu dois contratos de serviços de saúde no município. O primeiro foi em 2021, para a gestão emergencial da Upa do Éden por R$ 15 milhões, e em 2022, assumiu o contrato de R$ 86 milhões  para administrar a UPH da Zona Oeste, em substituição ao Instituto Diretrizes. 

No total, a Organização Social Aceni, que pertence aos empresários investigados por financiamento de campanhas eleitorais com dinheiro ilícito em diversas cidades do Brasil,  consumiu mais de R$ 102 milhões dos cofres da prefeitura administrada por Rodrigo Manga, que agora concorre à reeleição.

Desde o encaminhamento dessa grave denúncia do Gaeco do Rio Grande do Sul, para o Ministério Público de São Paulo, não se tem qualquer notícia de providências do Tribunal de Justiça de São Paulo, até o momento.  Mesmo sabendo-se que muitos munícipes perderam a vida e outros ficaram com a saúde debilitada, por falta de atendimento médico e equipamentos, e o descaso generalizado com a saúde pública na cidade, especialmente durante os primeiros anos da gestão de Rodrigo Manga.

Os jornalistas investigativos do Consórcio Nacional dos Jornalistas Independentes, conversaram durante toda essa semana, com autoridades do Supremo Tribunal Federal-STF, Superior Tribunal de Justiça-STJ, Conselho Nacional de Justiça-CNJ e Conselho Nacional do Ministério Público-CNMP para tentar encontrar respostas a respeito das providências em relação aos diversos processos criminais envolvendo a prefeitura de Sorocaba, em São Paulo.

Nos próximos dias, divulgaremos no Portal QUEM QUER FAMA - Jornalistas Associados,  os pareceres das autoridades consultadas.

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